Em Escrevivendo o leitor-internauta poderá ler, ou reler, contos e crônicas de minha autoria, sobretudo os já publicados nos meus livros: "Um lugar muito lá,", "Vento nas Casuarinas", "Menina com flor", "O infinitivo e outros males", e "Onde dormem as nuvens".
Além desses, publiquei o infantil "Toda criança merece ter um bicho".
A cada duas semanas, um texto será colocado e ficará aberto à leitura, às criticas, às sugestões e, quem sabe, aos elogios dos leitores.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Boas respostas


São artistas naquela triste especialidade de que fala o poeta 
grego Arquíloco de Paros:
“Tenho uma grande arte/ Eu firo duramente aqueles que me ferem 


                Famoso ator inglês interpretava Ricardo III e, a certa altura da peça de Shakespeare e da História da Inglaterra, o rei está perdendo a batalha e começa a gritar “Meu reino por um cavalo!”, para que alguém traga a montaria que lhe permita perseguir seu adversário: “Meu reino por um cavalo!” Da plateia, um engraçadinho perguntou: “Um burro serve?” O ator interrompeu a apresentação e respondeu, com fleuma britânica: “Serve. Pode subir”.
               A historinha acima me fez lembrar de uma deputada, também inglesa, que possuía uma língua terrível. Durante comício numa zona rural, um eleitor, querendo insinuar que ela não entendia nada da vida no campo, perguntou-lhe quantos dedos tinha um porco, tendo obtido por resposta esta delicadeza: “Homem, tire as botas e conte!” Pois essa senhora se deu muito mal quando resolveu provocar Winston Churchill, dizendo-lhe: “Se o senhor fosse meu marido, eu lhe dava veneno”. Serenamente, ele retrucou: “Se a senhora fosse minha mulher, eu tomava”.
               No Brasil, Carlos Lacerda deixou fama pela sua eloquência, pela sua capacidade, mas também pela sua dureza com os adversários. Chamado por um deles de “ladrão da honra alheia”, deu uma resposta igualmente impiedosa: “Então o senhor pode dormir tranquilo, pois nada tem que eu lhe possa roubar”. Outro político, Milton Campos, ao contrário, era um manso e, ao morrer, mereceu de Carlos Drummond de Andrade este elogio incomparável: “Foi o homem que todos gostaríamos de ter sido”. Governador de Minas, Mílton Campos recebeu de um secretário a sugestão de que mandasse um trem com soldados para reprimir operários em greve por falta de pagamento. “Não seria melhor mandar um trem com o dinheiro?”, perguntou o governador.
                As pessoas que têm respostas rápidas e inteligentes despertam admiração, mas também um certo temor, pois possuem uma qualidade que pode torná-las cruéis. Assemelham-se às vezes a uma rosa em que o espinho é maior do que a flor. Por uma boa frase, são capazes de sacrificar amizades, envenenar ambientes, machucar seus semelhantes. São artistas naquela triste especialidade de que fala o poeta grego Arquíloco de Paros: “Tenho uma grande arte/ Eu firo duramente aqueles que me ferem”. Ignoram a poética recomendação para que sejam como o sândalo que perfuma o machado que o fere. Esmagam o sândalo e entortam o machado. Nós outros, mortais comuns, reconhecemos a inteligência dessas pessoas, mas não gostamos de viver próximos a elas. Porque é uma lastimável verdade que nem sempre podemos amar a quem admiramos.
              Certa vez alguém me pediu que escrevesse sobre a beleza feminina (a fim de que certa pessoa lesse e se identificasse), mas eu me lembrei do Pe. Antônio Vieira: “Que coisa é a formosura senão uma caveira bem vestida?” e tanto pessimismo me desanimou. Talvez por isso não tenha conseguido atender o pedido, embora seja verdade que, como disse Wyndham Lewis, “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto. No meio você coloca as ideias”.
                  Em geral, a dificuldade está justamente em colocar as ideias. Nesse caso, uma solução possível é começar com uma letra maiúscula (digamos um F), e preencher o vazio com frases alheias. O ponto final é fácil, até eu sei fazer, às vezes até exagero, usando um ponto de exclamação. 
                  Ou vários !!!!!!!


Adaptado do livro “Um lugar muito lá!"

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